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O mais recente Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, divulgado pelo Governo Federal em 7 de abril, revela que o número de mulheres no mercado de trabalho brasileiro aumentou em 2024. Elas já representam 40,6% da população ocupada, o que equivale a 7,7 milhões de mulheres empregadas. No entanto, esse avanço na ocupação não tem sido acompanhado por uma valorização justa: as mulheres ainda recebem, em média, 20,9% a menos que os homens que exercem as mesmas funções.
De acordo com os dados analisados em mais de 53 mil empresas com 100 ou mais funcionários, os homens recebem, em média, R$ 4.745,53, enquanto as mulheres ganham R$ 3.755,01. Para as mulheres negras, o cenário é ainda mais preocupante, com uma média salarial de R$ 2.864,39.
A persistência dessa desigualdade representa um prejuízo coletivo. Se mulheres recebessem salários equivalentes aos dos homens nas mesmas funções, R$ 95 bilhões poderiam ter sido movimentados na economia brasileira apenas em 2024.
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, reforça que essa desigualdade tem raízes estruturais, ligadas tanto à sobrecarga das mulheres com responsabilidades de cuidado quanto à cultura empresarial que ainda não valoriza adequadamente a presença feminina. Segundo ela, é preciso mudar a mentalidade das empresas, pois organizações mais diversas tendem a ser mais eficientes e lucrativas.
O relatório também mostra que houve avanços importantes. Um deles é o aumento de 18,2% na participação de mulheres negras no mercado de trabalho, saltando de 3,2 milhões para 3,8 milhões. Além disso, houve uma redução no número de empresas com menos de 10% de mulheres negras no quadro de funcionários.
Mesmo com o crescimento da presença feminina, a participação das mulheres na massa total de rendimentos do trabalho variou pouco: de 35,7% em 2015 para 37,4% em 2024. Isso se deve principalmente à diferença salarial persistente, já que o número de mulheres trabalhando cresceu 6 milhões em quase uma década — de 38,8 milhões em 2015 para 44,8 milhões em 2024.
Outro ponto abordado no relatório é a desigualdade por tipo de ocupação. Em cargos de direção e gerência, as mulheres recebem apenas 73,2% dos salários dos homens. Para aquelas com nível superior, esse número cai para 68,5%. Nas funções administrativas, elas recebem 79,8%.
A desigualdade também varia conforme o estado. Os menores índices de diferença salarial estão em Pernambuco, Acre, Distrito Federal, Piauí, Ceará e Alagoas. Já os maiores estão no Paraná, Espírito Santo, Santa Catarina e Rio de Janeiro, onde a diferença ultrapassa os 27%.
Diante desse cenário, o governo lançou duas iniciativas: o Guia para Negociação Coletiva da Lei de Igualdade Salarial e o Movimento pela Igualdade no Trabalho, que mobiliza empresas e entidades para adotarem práticas mais justas. As ações fazem parte do Plano Nacional de Igualdade Salarial e Laboral entre Mulheres e Homens, lançado em 2024, que prevê investimentos de R$ 17 bilhões até 2027 e reúne esforços de 10 ministérios.
A legislação que fundamenta essas iniciativas é a Lei nº 14.611/2023, que determina que empresas com mais de 100 funcionários adotem medidas para garantir igualdade de remuneração, como canais de denúncia, programas de diversidade e políticas de capacitação para mulheres.