Com o avanço acelerado da Inteligência Artificial (IA), o ensino técnico no Brasil está passando por uma transformação profunda. Escolas tradicionais vêm adaptando seus currículos para preparar os estudantes para um mercado que exige domínio tecnológico, visão prática e capacidade de inovação.

O Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, uma das instituições mais tradicionais do país, anunciou a criação do curso técnico em Desenvolvimento de Sistemas com foco em IA e automação, que começa em janeiro de 2026. A proposta é clara: formar profissionais capazes de aplicar a tecnologia para resolver desafios reais do mercado de trabalho.

“Queremos oferecer uma formação prática e imersiva, em que o aluno aprenda fazendo. As atividades serão realizadas em laboratórios, com contato direto com programação e desenvolvimento de aplicações reais”, explica Fernando Ribeiro, coordenador dos cursos técnicos do Liceu.

Além da tecnologia, o curso inclui módulos sobre fontes renováveis e eficiência energética, conectando inovação digital à sustentabilidade. “Essa abordagem multidisciplinar garante que o estudante desenvolva consciência ambiental e competência técnica, combinando inovação com responsabilidade social”, completa Ribeiro.

O novo curso faz parte de uma tendência crescente no ensino médio técnico: integrar formação acadêmica e profissional em um mesmo percurso. Com duração de três anos, o aluno conclui o ensino médio já com uma habilitação técnica, pronto para trabalhar ou seguir para cursos superiores em áreas como tecnologia, engenharia e ciências exatas.

Outras iniciativas reforçam o protagonismo da IA no ensino técnico

O Colégio Fecap, localizado na Liberdade (SP), foi pioneiro ao lançar o primeiro curso técnico em Inteligência Artificial do ensino médio no Brasil, em 2019. Após três anos em caráter experimental, o curso foi reconhecido oficialmente pelo MEC em 2023. Hoje, a escola já formou várias turmas e conta com 136 alunos estudando IA em 2025.

“A Inteligência Artificial não é apenas um curso, mas uma competência transversal que precisa estar presente em todas as formações técnicas”, afirma o professor Marcelo Krokoscz, da Fecap.

O Colégio Santa Cruz, na zona oeste da capital, segue o mesmo caminho. Nos cursos técnicos noturnos de Logística e Administração, a IA é usada como ferramenta para tomada de decisão, automação de processos e análise de dados.

“As empresas buscam cada vez mais profissionais capazes de lidar com ferramentas inteligentes. Isso tornou a IA indispensável em qualquer área técnica”, destaca Roberto Catelli, diretor dos cursos noturnos.

Tendência nacional

O movimento reforça uma nova etapa da educação profissional no país: formar técnicos que não apenas executem tarefas, mas liderem soluções tecnológicas.

Esses cursos representam o início de uma era em que o ensino técnico assume papel estratégico na formação da nova força de trabalho da era digital — prática, adaptável e pronta para inovar.