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Empresas ampliam o uso da inteligência artificial e desafiam o mercado de trabalho com novas exigências de qualificação

Empresas ampliam o uso da inteligência artificial e desafiam o mercado de trabalho com novas exigências de qualificação

A crescente adoção da inteligência artificial (IA) pelas empresas tem gerado impactos significativos no mercado de trabalho. A tecnologia vem sendo amplamente utilizada para automatizar tarefas rotineiras, transformar funções, criar novas ocupações e subsidiar decisões estratégicas. Com isso, há um expressivo potencial de aumento de produtividade e expansão dos negócios. No entanto, especialistas alertam: os benefícios só serão plenamente alcançados se houver investimentos robustos em qualificação e requalificação profissional.

Para entender como o setor privado tem integrado a IA em suas operações e se preparado para essa transformação, o Business at OECD – braço empresarial da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – realizou uma ampla pesquisa internacional. O estudo, intitulado “Aumentando a produtividade e o crescimento dos negócios – o papel das habilidades de inteligência artificial”, foi divulgado em evento virtual no dia 26 de junho.

Segundo a publicação, o avanço da IA exige que governos e empresas promovam programas direcionados de capacitação. “Com a integração crescente da IA em diversos setores, é fundamental desenvolver iniciativas de qualificação profissional que mantenham trabalhadores e organizações competitivos”, afirma o relatório.

O Brasil como exemplo

O estudo internacional destaca o caso brasileiro do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que vem atuando com IA em seis frentes: personalização da aprendizagem, desenvolvimento de conteúdos, análise preditiva de competências, eficiência operacional, capacitação de educadores e estabelecimento de parcerias estratégicas.

“O SENAI tem papel fundamental na preparação de profissionais para a era da inteligência artificial. Nossas ações buscam incorporar os benefícios da tecnologia para ampliar o alcance e a qualidade da formação técnica, respondendo às demandas do setor produtivo”, afirma Gustavo Leal, diretor-geral da instituição.

Descompasso entre entusiasmo e preparo

A pesquisa revela que 65% dos empresários já utilizam IA generativa em pelo menos uma função do negócio. Estima-se que até 2030, a automação possa impactar até 30% das horas de trabalho atuais, principalmente em ocupações baseadas em tarefas repetitivas.

Embora os avanços tecnológicos sejam recebidos com entusiasmo por 60% dos trabalhadores, 62% ainda se sentem despreparados para lidar com a IA no dia a dia profissional — evidenciando um descompasso entre inovação e capacitação.

Aplicações práticas nas empresas

A IA vem sendo amplamente empregada na indústria para controle de qualidade, otimização de processos e monitoramento em tempo real, reduzindo falhas e aumentando a eficiência. Fora das fábricas, empresas têm utilizado a tecnologia em áreas como recursos humanos, vendas e atendimento ao cliente.

Reconfiguração do mercado de trabalho

A pesquisa aponta duas grandes consequências da adoção da IA: a reconfiguração de funções e a criação de novas ocupações. Do ponto de vista empresarial, a IA permite realocar talentos para funções mais estratégicas. Para os trabalhadores, isso significa menos tarefas repetitivas e mais espaço para atividades criativas e analíticas. Além disso, a automação tende a reduzir erros operacionais e riscos à saúde laboral.

As novas competências exigidas

O estudo faz uma distinção essencial entre os profissionais que desenvolvem tecnologias de IA (engenheiros de IA) e os que as utilizam em seu cotidiano (usuários de IA). A maioria da força de trabalho se enquadra nesse segundo grupo — e, para eles, o domínio técnico profundo é menos relevante do que o letramento digital, pensamento crítico, inteligência emocional e compreensão de negócios.

A IA, portanto, exige um conjunto de habilidades híbridas: além da técnica, são valorizadas competências interpessoais, criatividade, ética e responsabilidade no uso da tecnologia.

Estratégias de qualificação

As empresas estão investindo em diferentes formatos de capacitação: cursos on-line, workshops, programas internos e certificações, muitos deles em parceria com instituições de ensino e órgãos governamentais. Os temas vão desde o uso prático da IA até discussões sobre sua aplicação ética e especializada em setores como saúde, finanças, indústria e varejo.

Em resumo, a IA está redefinindo os modelos produtivos e o perfil profissional desejado pelas empresas. A resposta mais eficaz a essa mudança passa, inevitavelmente, pela educação técnica e pela formação contínua dos trabalhadores em todas as etapas da carreira.